quinta-feira, 31 de março de 2011

Teatro pós-dramático

O "estar exposto" do ator não é filtrado pelo papel e pelo drama. O corpo se aproxima do espectador de modo ambivalente e ameaçador - porque se recusa a se tornar substância significativa ou ideal e passar para a eternidade como escravo do sentido/ideal.

(...)

o performer (...) de certo modo se apresenta como um vítima sacrificial: sem a proteção do papel, sem o fortalecimento por meio da serenidade idealizante do ideal, o corpo está também entregue, em sua fragilidade e aflição, como estímulo erótico e provocação ao julgamento dos olhares que avaliam.
A partir dessa posição de vítima, porém, a imagem corporal escultória pós-dramática se converte em um ato  de agressão e questionamento do público. Na medida em que o ator o encara como pessoa vulnerável, individual, o espectador se torna consciente de uma realidade que é oculta no teatro tradicional, ainda que ela inevitavelmente faça parte da relação do olhar com o "espetáculo": o ato de ver que se aplica de modo voyeurístico ao ator exposto, como se ele fosse um objeto escultural. Nenhum ordenamento narrativo ou dramatúrgico serve aos observadores como "desculpa" para encarar as pessoas no palco. O espectador se encontra sobretudo na situação de um voyeur que se torna consciente da realidade - mesmo de sua ambiguidade -, na qual, ademais, é flagrado, por assim dizer, pela técnica da confrontação acentuada, pelos olhares dirigidos diretamente ao público, pela frontalidade do ordenamento arrancada a segurança imaginária do voyeur. (pg. 345 e 346)

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