quarta-feira, 16 de março de 2011

Vermelhos Balões Vermelhos por Caio Riscado

"- Tem 30 pagar, Di.
- E daí?
- Dou o sinal?
- Sim. Claro. Que importa quantos tem? Importa que cada um de nós faça o que tem que fazer... até... até acabar estatelado no chão do picadeiro... Se acabando, mas com a glória de escutar ainda a orquestra tocar o galope. Assim é que é. Vamos lá, retire a rede e dê o salto mortal.” p.41 (MARCOS, Plínio).

Com palavras diferentes, mas mesmo significado e força o texto de “Vermelhos Balões Vermelhos” termina como a passagem acima que foi retirada do livro “O Assassinato do Anão do Caralho Grande”, de Plínio Marcos. A escassez de público é um sintoma que aflige grande parte dos artistas que precisam da platéia presente para a realização de suas obras. Por outro lado, ainda vemos poucos movimentos que tentam contornar essa situação. Os artistas continuam estreando, mas para quem? Se sabemos que corremos o risco de não termos público, porque continuamos a acreditar e lutar pela realização de nossos projetos?

Talvez, responder com exatidão a essas perguntas seja uma tarefa impossível. Mas o que não podemos fazer é deixar de falar sobre elas e a política que as cercam. Hoje, vejo um circuito de teatro independente que tende a crescer cada vez mais. Porém, esta vontade de vê-lo tomar a cidade e seus teatros parece se manifestar somente nos seus próprios feitores, idealizadores, ou seja, “gente de teatro” também como estudantes e professores da área.

A meu ver, vivemos um momento onde o teatro só parece ser necessário para quem o pratica. A cada ano que passa é notável o aumento do número de estudantes que saem do segundo grau e pretendem ingressar em um curso universitário voltado para segmentos da arte. O que mais me comove nesta constatação é que o mercado de trabalho e a parcela do público interessada em arte não crescem desta mesma forma. Mas o que pensam todos esses artistas? Como vão sustentar suas famílias se dependem do ingresso pago pelo público para isso? “Vermelhos Balões Vermelhos” também nos faz essas perguntas e seus personagens chegam a constatar que estão pagando para fazer cultura. Pagam os artistas e também o público que, com o valor alto de seu ingresso, ajuda a custear o espetáculo que assiste. Bom, se o dinheiro do público não vai para o artista, quem paga as suas contas?

Deparamos-nos então com outro sintoma que aflige a classe artística: o segundo emprego. Para poder bancar seus sonhos, suas produções muitos de nós artistas precisamos apelar para uma segunda profissão. Esta, muitas vezes, não está relacionada a criação artística. Mas é o que mantém nossas presenças nos intermináveis e não remunerados horários de ensaios em que precisamos estar presentes. Ficamos aprisionados em um ciclo onde o que nos dá dinheiro não é o que amamos fazer, mas sim o que banca nossos encontros para com os nossos amantes.

Penso que escolhemos uma profissão que é mais encarada como estilo de vida do que como ofício. Talvez, por precisarmos nos render a máquina do capital, deixando nossos sonhos em segundo plano, sejamos nós mesmos uma espécie de contribuintes para a sustentação deste preconceito. Precisamos encontrar uma saída, mudar o rumo de nossa história. E se todos nós aderíssemos a um teatro de resistência, largássemos nossos segundos empregos e seguíssemos fazendo teatro e morrendo de fome, chamaríamos mais atenção? Chegaríamos a um momento onde não haveria mais força para encarar um palco ou picadeiro, alguém sentiria a nossa falta? Se, de acordo com o nosso plano de governo, todo cidadão tem o direito de ter acesso a cultura é por que em algum momento ela foi requisitada. Será que precisamos recuperar este momento? Será que nossa forma de expressar nossos sentimentos foi ultrapassada e não se encontra mais dentro da denominação de cultura?

Para o governo que disponibiliza algumas formas de incentivo, a guerra pelos editais deve parecer natural, satisfatória. Mas até na competição dos editais oferecidos para a nossa classe encontramos problemas. Se, muitos editais, classificam como “iniciante” um grupo ou coletivo que tem no mínimo cinco anos de experiência, onde nos enquadramos nós, formandos? Onde encontramos a cartilha que nos ensinará a manter dois empregos, durante cinco anos até podermos concorrer a um edital e, com sorte, pensar em ganhar um salário fixo, que nem sempre é possível?

Nenhum comentário:

Postar um comentário